Os psicodélicos estão sendo cada vez mais pesquisados como um novo método de aumentar a eficácia das psicoterapias para o tratamento de condições de saúde mental. Os psicodélicos mais estudados até o momento incluem psilocibina e 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA). O Veterans Health Administration’s (VHA) Office of Research Development (ORD) financia pesquisas sobre compostos psicodélicos em veteranos.
Apesar da eficácia dos tratamentos atuais baseados em evidências para TEPT e depressão, muitas pessoas não se beneficiam o suficiente desses tratamentos. Uma área de pesquisa interessante é examinar estratégias de aumento de psicoterapia com drogas psicodélicas, uma subclasse de drogas alucinógenas que desencadeiam estados incomuns de consciência. Essas substâncias alteram a percepção e o humor e afetam vários processos cognitivos.
Dois compostos psicodélicos específicos, MDMA (frequentemente chamado de psicodélico não clássico) e psilocibina, receberam a maior parte da atenção da pesquisa até o momento. Pesquisas em andamento encontraram suporte para o uso desses compostos em conjunto com a terapia para tratar várias condições de saúde mental, incluindo TEPT.
Terapia Assistida por MDMA envolve o uso de MDMA como um complemento à psicoterapia para o tratamento de diferentes condições de saúde mental. O MDMA é um liberador de monoamina e inibidor de recaptação com efeitos indiretos na liberação de neuro-hormônios.
Os efeitos do MDMA incluem redução do medo, aumento do engajamento social, aumento da abertura, aumento da receptividade ao afeto positivo, aumento da empatia e compaixão, aumento dos sentimentos de proximidade e aumento da divulgação do conteúdo emocional. O MDMA tem como alvo os processos de reconsolidação da memória e extinção do medo, permitindo perspectivas expandidas e experiências positivas e afirmativas. Esses efeitos são atribuídos principalmente à ativação do 5-HT, ou sistema serotoninérgico, pelo MDMA.
O MDMA está atualmente sendo investigado por seu potencial para tratar transtornos alimentares, ansiedade, abuso de álcool e substâncias e TEPT. A premissa para o MDMA é que os efeitos terapêuticos do MDMA são o resultado de uma interação entre o medicamento, o componente psicoterápico e a mentalidade do participante e dos terapeutas envolvidos. O FDA está revisando as evidências para o MDMA para o tratamento de TEPT, o que pode envolver reprogramação futura e aprovação do MDMA para esse propósito.
Há interesse em examinar o MDMA para tratar o TEPT devido ao fato de ser um empatógeno-entactogênio (ou seja, uma droga que causa liberação de serotonina e dopamina) e eleva hormônios e neurotransmissores que levam a um maior envolvimento social, abertura, empatia, receptividade ao afeto positivo e divulgação de conteúdo emocional, além de facilitar a liberação de ocitocina, o que aumenta os níveis de empatia e proximidade.
A ação do MDMA também diminui as respostas ao estresse, aumenta a autocompaixão e os sentimentos pró-sociais, que podem ajudar na tomada de perspectiva ao relembrar uma experiência traumática, reforçar a extinção do medo por meio da melhora da atividade do hipocampo e do córtex pré-frontal ventral/medial, ambos apresentando déficits em pessoas com TEPT. Essas áreas-chave ajudam indivíduos com TEPT a superar a evitação e lidar melhor com seus sintomas de TEPT enquanto lidam com seu trauma sob a orientação de um terapeuta.
Até o momento, a maior base de evidências é para o protocolo Lykos Therapeutics (“Lykos”; anteriormente MAPS Public Benefit Corporation), que inclui doze sessões de terapia de 90 minutos mais três sessões de medicamentos de 6 a 8 horas. As sessões de medicação são separadas por pelo menos 21 dias, e cada uma requer o envolvimento de 2 terapeutas.
Há três sessões de preparação de 90 minutos antes da primeira sessão de medicamentos e cada sessão de medicamentos é seguida por três sessões de integração de 90 minutos durante as quais o paciente tem a oportunidade de processar sua experiência com o(s) terapeuta(s).
Dois ensaios clínicos randomizados de fase 3 controlados por placebo recentes do protocolo Lykos MDMA-AT demonstraram eficácia do tratamento com grandes tamanhos de efeito. Em ambos os ensaios, a gravidade dos sintomas de TEPT diminuiu significativamente mais para os participantes que receberam MDMA-AT do que para os participantes que receberam placebo e terapia, apoiando o valor terapêutico do próprio MDMA como um acréscimo à psicoterapia.
A eficácia do MDMA-AT para TEPT também foi demonstrada em um ensaio clínico de fase 2 controlado por placebo. Quatro estudos adicionais de fase 2 se concentraram na resposta à dose, com todos os estudos descobrindo que os participantes em MDMA-AT tinham mais probabilidade de atingir reduções clinicamente significativas de TEPT do que aqueles no grupo de controle.
A terapia assistida por psilocibina, ingrediente ativo em uma variedade de cogumelos alucinógenos, quando ingerida é convertida em psilocina, que então atua como um agonista em vários receptores serotoninérgicos e não serotoninérgicos. A psilocibina demonstrou ter baixa toxicidade fisiológica (ou seja, impactos negativos limitados na saúde física) e baixo potencial de abuso quando ingerida oralmente.
Indivíduos que tomam psilocibina relatam uma ampla gama de experiências por 4-8 horas, dependendo da dose, incluindo imagens visuais de formas geométricas multicoloridas, sequências imaginativas vívidas, sinestesia (ou seja, experimentar vários sentidos não relacionados juntos, como sentir o gosto de cores), sentimentos de bem-aventurança e conexão, dissolução do self/ e experiências do tipo místico.
Essas experiências psicodélicas são frequentemente de grande significado pessoal. Pesquisadores começaram a parear psilocibina com várias formas de psicoterapia, chamadas Terapia Assistida por Psilocibina (P-AT), para dar suporte na cura de condições de saúde mental, incluindo TEPT.
A psilocibina tem demonstrado eficácia no tratamento de depressão, ansiedade e uso de substâncias e há grande interesse na sua utilidade da P-AT para tratar TEPT, uma vez que afeta redes neurais para criar mudanças positivas na personalidade, aumento de sentimentos de conexão, aumento de abertura, melhor perspectiva, aumento de flexibilidade psicológica e aumento da sensação de bem-estar.
Ademais, também facilita a extinção do medo e a neurogênese em animais, o que pode neutralizar diretamente a extinção do medo e a neurogênese prejudicadas que provavelmente desempenham um papel fundamental no desenvolvimento e na manutenção do TEPT e induz experiências emocionais de ruptura que foram estabelecidas como um mediador fundamental na mudança psicológica de longo prazo no tratamento de outros transtornos de saúde mental.
Os psicodélicos também podem diminuir a reatividade da amígdala durante o processamento de emoções, o que pode reverter a reatividade aumentada da amígdala tipicamente vista no TEPT, aumentando assim a capacidade de processar memórias traumáticas. A psilocibina também aumenta a empatia emocional, as capacidades relacionadas à atenção plena, a aceitação e a conexão, ao mesmo tempo em que reduz a evitação, o que pode facilitar o tratamento do TEPT.
Juntamente com as sessões de psicoterapia de apoio, a administração de psilocibina pode ajudar aqueles com TEPT a tolerar emoções desafiadoras e lidar com os traumas que vivenciaram, ao mesmo tempo em que encontram novas perspectivas sobre pensamentos inúteis ou negativos.
Referências
BAHJI, Anees et al. Efficacy and Safety of Four Psychedelic-Assisted Therapies for Adults with Symptoms of Depression, Anxiety, and Posttraumatic Stress Disorder: A Systematic Review and Meta-Analysis. Journal of Psychoactive Drugs, p. 1-16, 2023.
https://doi.org/10.1080/02791072.2023.2278586
